9º Encontro Regional de Mulheres Rurais ressalta a força feminina no campo

 

“Eu cuido da horta, do leite, da associação, da minha casa! E participo das feiras também, viu?”, conta a produtora rural, Emilia dos Santos, de 62 anos. A vida no campo iniciou há mais de 20 anos com a produção de leite em Lupionópolis (PR). Para aumentar a renda familiar, em 2008, a produtora rural iniciou a produção orgânica, que está em fase de certificação. “Tem couve, almeirão, alface, cenoura, abobrinha verde, quiabo, repolho, couve-flor, brócolis”. 

Essa produção está dentro da agricultura familiar e é comercializada por meio da Adafsol (Associação Desenvolvimento Familiar Solidaria), que tem, hoje, 15 associados. As hortaliças são entregues para 16 escolas de municípios paranaenses. Além disso, os produtores rurais vendem as hortaliças em uma feira que é realizada duas vezes por semana em Lupionópolis. 

Esse é um trechinho da história da Dona Emilia, que participou do 9º Encontro Regional de Mulheres Rurais realizado na ExpoLondrina 2024. O evento recebeu mais de 400 convidadas, com a presença de profissionais da área, empresárias e autoridades. Atualmente, o Brasil tem 14 milhões de mulheres atuando na produção rural e é indiscutível que a força feminina é essencial para o campo. Com isso, o encontro proporcionou conhecimento através da palestra “Direitos Previdenciários da Mulher Rural” e por meio de uma roda de conversa com temas que abordaram o empreendedorismo, mostrando casos de sucesso. 

Um desses casos de sucesso é o da Vanessa Luiza Buccioli, produtora de leite e piscultora de Bela Vista do Paraíso (PR). Vanessa era esteticista até 2021, depois de uma separação matrimonial, decidiu empreender na área rural. “No começo assustei, mas agora eu vi que é isso que eu quero para a minha vida”, conta. A propriedade de 20ha produz 60 toneladas de tilápia por safra. “Quando eu iniciei era bem cru, foi um trabalho duro. E sou eu que faço a gestão, ajudo a cuidar dos animais, e aos poucos estamos crescendo”, conta. Para a produtora, as mulheres podem e devem atuar em todas as áreas. “A mulher também vai dominar esse meio (rural)”.

Para Elaine El-Kadre, membro da Comissão Feminina da Sociedade Rural do Paraná, esse encontro é importantíssimo e reforça o protagonismo feminino. “As mulheres se reúnem para falar e ouvir sobre questões de direito e ressaltar os casos bem-sucedidos dessas mulheres, que tem história, muita história para contar”. Elaine diz ainda que pretende incentivar mais atividades como essa no decorrer do ano. “Pretendo fazer uma agenda junto com o IDR e realizar diversas reuniões como essa”. 

Na visão da Diretora de Pesquisa e Inovação do IDR-PR, Vânia Moda Cirino, o 9º Encontro Regional de Mulheres Rurais tem grande relevância porque congrega mulheres rurais de toda a região norte do Paraná. Além disso, traz informações sobre as políticas públicas disponíveis especificamente para as mulheres. 

Segundo ela, a participação feminina no campo cresceu significativamente nos últimos 5 anos. Vânia contou ainda que, devido a grandeza desse assunto, foi instituído o “Dia Mundial da Mulher Rural”, comemorado em 15 de outubro. “Em 1995, a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura estabeleceu o dia 15 de outubro como o dia internacional da mulher rural, uma data para homenagear, não só homenagear as mulheres, mas também para destacar o papel feminino na produção agropecuária, inclusive na produção de alimentos. Em muitos países e até no Brasil, por exemplo, na região nordeste, as mulheres são grandes produtoras de alimento, ela supre a alimentação da sua família, temos que destacar o papel da mulher na produção rural, na produção agrícola”, enfatiza. 

A secretária da Mulher Igualdade Racial e Pessoa Idosa do estado do Paraná, Leandre Del Ponte, fez questão de prestigiar o evento. Natural de Chopinzinho, uma cidade pequena do interior do estado, ela descobriu cedo a vocação, quando foi secretária de saúde, aos 19 anos, no município de Saudade Iguaçu. “Ali eu aprendi que a minha vocação é cuidar das pessoas”, conta. 

A secretária ressalta que todas as iniciativas que colocam a mulher em foco são muito positivas. “O governador Ratinho Júnior criou, em 2023, a Secretaria de Estado da Mulher, justamente para isso. Para que a gente possa, cada vez mais, fomentar o protagonismo feminino, para trazer informação, investir na capacitação, no empreendedorismo, para que as mulheres possam também desenvolver todas as suas habilidades, possam gerar renda, possam prosperar”. 

Adriana Leonardi tem uma história de luta. Há 20 anos na produção de leite, Adriana enfrentou muitas dificuldades. A família começou em Jaguapitã (PR) em uma propriedade arrendada, mas teve que sair do local em 2016. Recomeçaram a atividade em Lupionópolis com um animal. E desse animal vinha a renda da família. Hoje, eles têm 25 vacas leiteiras que produzem 250 litros por dia. Adriana cuida de toda a gestão da propriedade que adotou manejo sanitário, reprodutivo e nutricional, além de fazer o planejamento forrageiro e a gestão da atividade. “A minha vida é corrida porque sou eu que faço a parte da higienização dos animais, dos maquinários”, conta

A Coordenadora Regional de Projetos do IDR-Paraná, Marli Parra, organizou o evento e ressaltou a importância dessas iniciativas. “50% da população rural é de mulher e oferecer um encontro somente voltado a elas é necessário”, finaliza. 

Fotografia Lunartty Souta