13/04/2024
Fotografia: Lunartty Souta
Mortalidade de bezerros e cuidados neonatais são tema de encontro na ExpoLondrina
Por Diego Prazeres
Um dos fatores primordiais que os produtores devem levar em conta para o sucesso na criação da pecuária de corte e de leite é o bom desenvolvimento dos bezerros. A taxa de natimortalidade de crias, que é a relação entre o número de nascidos mortos e o total de nascimentos ocorridos, é de 37% nas vacas de corte e passa dos 50% nas leiteiras.
Um problema que pode impactar diretamente na rentabilidade da produção, mas que pode ser mitigado com cuidados que devem ser tomados desde o final da gestação até o pós-parto. O tema foi abordado no XIII Encontro de Buiatria da Região Norte do Paraná, realizado no penúltimo dia da ExpoLondrina 2024, neste sábado (13), no Recinto Milton Alcover.
O evento foi organizado pela Associação Paranaense de Buiatria, que reúne médicos veterinários especialistas nos cuidados de ruminantes. “É importante a gente discutir esses cuidados porque apesar de estarmos muito desenvolvidos em várias áreas da pecuária, ainda temos principalmente entre os produtores de pequenas propriedades um nível considerável de perda de bezerros nessa etapa. E são cuidados básicos, não são difíceis de se fazer”, aponta a veterinária e professora de clínica médica de grandes animais na UEL (Universidade Estadual de Londrina), Priscila Fajardo, uma das responsáveis pelo encontro.
Por afetar principalmente propriedades de gado leiteiro, a mortalidade de bezerros teve como foco no debate as raças Holandesa e Jersey, consideradas mais sensíveis aos problemas relacionados à distocia, que é o parto patológico.
Doutora em obstetrícia animal, a palestrante Wanessa Blaschi, veterinária e professora da Uenp (Universidade Estadual do Norte do Paraná), pontua que a prevenção é a forma mais eficaz de se evitar prejuízos tanto no tratamento da vaca parturiente quanto na chamada terapia suporte, que envolve cuidados que vão desde a administração de cálcio à hidratação dos animais.
“Para prevenir a distocia temos que ter cuidado com os cruzamentos, por causa da desproporção entre o feto e o tamanho da fêmea, e também com a questão nutricional, principalmente para evitar que a fêmea tenha problemas de hipocalcemia clínica e dificuldade em parir”, explica. A terapia suporte serve justamente para promover tanto o restabelecimento da vaca quanto do bezerro.
A atenção ao colostro, que é a primeira mamada da cria, também é fundamental após o parto porque o leite lhe garante a imunidade necessária contra a contaminação de bactérias, por exemplo. “Bezerros oriundos da distocia têm incidência muito alta de problemas respiratórios, umbilicais e diarreia. Tudo isso implica em prejuízo para o produtor”, afirma a especialista.
Diferente da distocia fetal, de alta incidência e que ocorre quando o feto está mal posicionado, há um outro tipo de patologia no parto que pode ser evitada, salienta Wanessa Blaschi. E ela está relacionada às técnicas de reprodução de fêmeas jovens que provocam uma desproporção entre os tamanhos do feto e da vaca.
“Muitas vezes nas biotecnologias de reprodução busca-se muito o cruzamento de fêmeas jovens, e isso pode causar desenvolvimento de um bezerro muito grande”, aponta. “Quando se escolhe uma receptora de embrião, por exemplo, tem que se preocupar com o potencial de tamanho dessa pró-gene em relação a essa receptora, ao porte do animal. Quando a fêmea é muito jovem, tanto o trato reprodutivo dela como a conformação física ainda não concluíram o crescimento. Então, se a vaca for parir muito jovem, pode não estar apta para ter um trabalho de parto adequado”, alerta Blaschi, citando que em se tratando do tamanho do bezerro, 52% dos casos são de responsabilidade paterna, e 48%, materna.
Natimortalidade
Sobre a alta taxa de natimortalidade de bezerros em vacas leiteiras em relação às de corte, a professora da Uenp explica que isso acontece por fatores que envolvem sistemas de criação, nutrição e produção. “A vaca leiteira fica mais confinada, é um animal cujo metabolismo é todo voltado à produção de leite, então é uma espécie que mobiliza mais cálcio, que é um nutriente fundamental para a contração do útero. E a vaca de corte fica mais a pasto, se movimenta mais, a conformação abdominal dela é diferente, assim como o tipo de dieta.”
Ela acredita que os produtores estão atentos a essas dores da pecuária bovina. “Eu creio que sim porque mexe com o bolso. Quando a gente fala em produção tem que pensar em rentabilidade e fazer o equilíbrio entre o que é rentável e o que pode causar prejuízo”.
Atenção neonatal também no foco do debate
Os cuidados neonatais em bezerros também foram abordados no encontro de buiatria. A veterinária Fernanda Mobaid Romão, doutora e professora de clínica médica de grandes animais na Faef (Faculdade de Ensino Superior e Formação Integral) em Garça (SP), afirma que a fase mais crítica ocorre até os primeiros 30 dias de vida do animal.
“Quando nasce, o bezerro tem o sistema imunológico imaturo, fica suscetível a várias doenças, e ele necessita da transferência de anticorpos por meio do colostro, que é a sua primeira mamada. A partir do momento em que ele mama o colostro, vai garantir que a imunidade fique alta durante o período neonatal até o sistema imune ser eficiente”, explica, acrescentando que o manejo adequado e técnicas corretas de hidratação também são importantes para preservar a saúde dos animais, que são acometidos principalmente pela diarreia no pós-parto.
Fotografia: Lunartty Souta