11/04/2024

Mudas orgânicas e bioinsumos são temas de encontro na ExpoLondrina

Por Vera Barão

Os principais temas relacionados à agroecologia foram debatidos no 3º Encontro de Agroecologia e Horticultura na Sucessão Familiar durante a ExpoLondrina. Promovido pelo Instituto de Desenvolvimento Rural do Paraná (IDR-Paraná), o evento tratou da produção de mudas certificadas na horticultura e de bioinsumos, além de apresentar cases de produtores que tiveram sucesso com o cultivo de orgânicos. 

O engenheiro agrônomo Tiago Luan Hachann, do IDR Paraná, disse que a utilização de mudas certificadas na horticultura é uma exigência recente do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa).

Entre os principais desafios na produção de mudas orgânicas, ele cita a dificuldade na obtenção de substratos certificados orgânicos que atendam às normas de produção, em razão deste mercado ser limitado. “Além disso, a adubação orgânica requer uma abordagem mais detalhada e adaptada às necessidades específicas das plantas, uma vez que não se utiliza fertilizantes sintéticos”, afirma. 

“O manejo de pragas e doenças também segue princípios orgânicos, evitando o uso de pesticidas e herbicidas químicos, o que demanda um conhecimento aprofundado sobre alternativas naturais e métodos preventivos”, afirma Hachmann. 

O Paraná é o maior produtor orgânico do Brasil, e agora essa cadeia está movimentando também uma grande demanda por mudas orgânicas certificadas. “O IDR tem investido bastante energia nisso, para criar algum protocolo para que os produtores de mudas possam se adaptar de uma maneira mais fácil”, explica. 

Diante das mudanças climáticas que impõem condições adversas ao cultivo, o engenheiro agrônomo destaca que, apesar dos custos serem similares, a escolha por mudas adaptadas aos estresses ambientais garante a sobrevivência e reduz a taxa de mortalidade no campo, que chega a 30%. 

A palestra de Orlando Assis, biólogo do IDR-Paraná, focou no uso de bioinsumos e suas tendências. Segundo ele, esse mercado é crescente e, hoje, pelo menos 10% dos produtores utilizam o bioinsumos. Ele destacou a importância da indústria na incorporação de inovações científicas, muitas das quais originadas pela Embrapa, e deu ênfase aos bioinsumos derivados de bacilos e outros organismos vivos, além de produtos já industrializados. “Atualmente temos também a produção de bioinsumos diretamente nas propriedades rurais, uma prática que ganhou popularidade e que é apoiada pelo IDR através de orientação especializada aos agricultores”, disse. 

“Esta orientação inclui o uso eficiente desses produtos, bem como métodos para produzi-los na propriedade, utilizando técnicas como biofertilizantes e manejo do solo”, afirma. 

SEAB - Durante o evento, o secretário da Agricultura e Abastecimento, Norberto Ortigara, destacou a conexão entre horticultura, agroecologia e sucessão familiar. Segundo ele, aproximadamente 98% das flores e 70% das frutas e verduras são cultivadas em pequenas propriedades com certificação orgânica. 

"Vocês devem ter notado que, após a pandemia, muitas pessoas se voltaram para o que é natural, para o campo, para o interior. Não desvalorizamos a produção convencional, pois ela evitou a fome mundial, mas os produtos orgânicos estão ganhando mais espaço no mercado", disse ele. 

"Isso se deve ao aumento da demanda, incluindo a do próprio governo. Nosso objetivo é alcançar, até 2030, 100% de alimentação orgânica nas mais de 2.100 escolas do Paraná, beneficiando mais de um milhão de alunos”, disse ortigara.

 

CASES DE PRODUTORES DE ORGÂNICOS

 

ASSENTAMENTO ELI VIVE - O 3º Encontro de Agroecologia e Horticultura na Sucessão Familiar contou também com o depoimento de três produtores que passaram a trabalhar com orgânicos recentemente e já obtêm ótimos resultados. 

A experiência de Jovana Cestille com a produção agroecológica no Assentamento Eli Vive, no Distrito de Lerroville, é um exemplo prático de agricultura sustentável. Com um foco em práticas orgânicas certificadas, Jovana cultiva tomate orgânico em estufas e tem uma agrofloresta, onde faz o plantio de café assombreado. Esse sistema garante um café de maior qualidade, além de criar um ecossistema mais equilibrado. 

“Quando chegamos no assentamento em 2016, só havia três árvores e a gente sempre quis morar num local arborizado”, contou Jovana, acrescentando que a integração com programas locais, como o Paraná Mais Orgânico e o apoio da Universidade Estadual de Londrina (UEL), é fundamental para a produtividade e a sustentabilidade das culturas. 

Além de fornecer uma parte dos produtos orgânicos à Merenda Escolar, por meio da Prefeitura de Londrina, ela comercializa seus produtos em cestas e participa de feiras na cidade.

 

IBIPORÃ - A família de Emerson Amorim, que reside em uma pequena propriedade na região de Ibiporã, não apenas adotou práticas orgânicas, mas também obteve a certificação necessária para comercializar seus produtos.  A assistência técnica do IDR Paraná foi determinante nesse processo, fornecendo orientação especializada para a transição para métodos orgânicos. “Nosso cultivo era aberto, mas depois fomos para o cultivo protegido e tivemos uma rentabilidade maior”, contou Emerson. 

A propriedade faz a diversificação de culturas, incluindo pepino, tomate, pimentão e uma pequena variedade de frutas como acerola, laranja e banana. “Mas o forte mesmo são as verduras”, contou. 

ROLÔNDIA - A família de Julia Nunes dos Santos tem uma propriedade na região de Rolândia, há mais de quatro décadas. A decisão de abandonar o uso de agrotóxicos veio de uma experiência pessoal adversa. Há cerca de 18 anos o pai de Júlia intoxicou-se com agrotóxico e deixou de usar o produto na propriedade. 

Nos últimos quatro anos, com a assistência do IDR-PR, a família conseguiu realizar o sonho de cultivar produtos orgânicos. Eles cultivam em estufas verduras como alface, chicória, almeirão, alho-poró, mas carro-chefe é o tomate orgânico, junto com a manga certificada. Recentemente a família iniciou o plantio de abacaxi. “Essa mudança contribuiu para aumentarmos a nossa renda, além de beneficiar os consumidores com uma alimentação mais saudável”, disse. 

Fotografia Day Rebecchi