12/04/2024
Painel da Embrapa debate produção sustentável da soja e até o uso de IA no controle de pragas na ExpoLondrina
Evento teve ênfase em bioinsumos, variabilidade genética e Zoneamento Agrícola de Risco Climático; uso da inteligência artificial para a detecção dos esporos da ferrugem da soja já começa a ser realidade.
Por Vera Barão
As tecnologias que compõem a produção sustentável da cultura da soja foram amplamente debatidas no Painel sobre Produção Sustentável de Soja no Paraná, promovido pela Embrapa Soja em parceria com o Instituto de Desenvolvimento Rural do Paraná (IDR-Paraná). O evento ocorreu na ExpoLondrina 2024, com ênfase em bioinsumos, variabilidade genética e Zoneamento Agrícola de Risco Climático (Zarc-Soja)
A chefe de Transferência de Tecnologia da Embrapa Soja, Karina Rufino, destacou que a parceria entre Embrapa, IDR-Paraná e Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR) tem demonstrado como a adoção de boas práticas agrícolas e o manejo técnico especializado podem resultar em benefícios significativos para produtores e para o meio ambiente.
“A redução no uso de produtos químicos, como inseticidas e fungicidas, não só diminui o impacto ambiental, mas também aumenta a rentabilidade e a produtividade das lavouras. No caso da soja, adotando as técnicas preconizadas pela pesquisa, o produtor tem conseguido reduzir, por exemplo, em 50% o volume de inseticida aplicado na lavoura”, explica Karina. Ela acrescenta que quando o produtor faz a inoculação da soja, técnica que melhora a fixação de nitrogênio, o aumento da produtividade pode ser de até 8%.
Além disso, a integração da inteligência artificial na agricultura começa a mostrar resultados, transformando a região de Londrina em um polo de inovação tecnológica. “Esses avanços refletem a importância de basear o manejo agrícola em informações sólidas para tomada de decisões, promovendo uma agricultura mais sustentável e equilibrada em todos os aspectos”.
O pesquisador da Embrapa Soja, José Renato Bouças, ministrou palestra no painel sobre Zoneamento Agrícola de Risco Climático (ZARC), destacando como esta ferramenta pode ser usada pelo produtor rural para amenizar riscos e planejar melhor o plantio da safra.
Definido como um instrumento de política agrícola e gestão de riscos na agricultura, implementado em 1996, o Zarc delimita, estabelece e indica as épocas de diferentes culturas com menor probabilidade de risco de ocorrência de adversidade climática.
“Hoje temos ZARC para 44 culturas em todo o Brasil e estamos começando agora a apresentar também um ZARC para pecuária. Então, o ZARC é um indicativo para o produtor rural, além de ser utilizado nas operações de crédito e seguro agrícola”, afirma Bouças
Os principais desafios do produtor atualmente, disse o pesquisador, são as questões climáticas. “Creditamos ao clima 50% do sucesso da exploração agrícola; 12% a 15% a parte de genética e outros 12% a 15%, a parte de manejo fitossanitário e nutricional e uns 20% a parte de manejo do solo. Porém, o clima é o grande fator decisivo”, afirma Bouças, acrescentando que com base nos indicativos, as classificações de riscos são de 20%, 30% e 40%.
“As variabilidades de rendimento podem ser observadas nessa safra e também nas quatro anteriores. “Se a gente somar a perda desses últimos cinco anos na região sul, dá mais do que uma safra inteira. É uma perda é considerável”.
O pesquisador André Matheus Prando, da equipe de transferência de tecnologia da Embrapa Soja, apresentou os resultados das boas práticas agrícolas e o trabalho feito em parceria no Estado com o IDR Paraná. “Nesses resultados focamos a questão do Manejo Integrado de Pragas (MIP) e o Manejo Integrado de Doenças (MID) e a Fixação Biológica de Nitrogênio (FBN) ”, disse.
“O trabalho é realizado em propriedades, em lavouras comerciais, as quais chamamos de Unidade de Referência Técnica, onde é avaliado o efeito de cada uma dessas tecnologias”, pontua. “Podemos afirmar que produtor que adotou o MIP conseguiu ter uma economia de duas sacas de soja por hectare. Com a FBN, que utiliza a coinoculação e inoculação, especialmente para as culturas de soja, conseguimos em média, um aumento de produtividade na ordem de 4,7 sacas por hectare”, explica Prando.
“Essa rentabilidade é aproximada e pode variar muito de região para região em até 8 sacas de soja por hectare. Então é algo bastante interessante, porque o produtor consegue reduzir a aplicação de defensivos e beneficiar o meio ambiente, preservando o inimigo natural que nos ajuda a prevenir surto de pragas”, disse.
Ele complementa que as bactérias fixadoras de nitrogênio são capazes de converter o nitrogênio atmosférico em uma forma que as plantas podem absorver. “Isso reduz a necessidade de fertilizantes nitrogenados, que são um custo significativo na produção agrícola e têm impactos ambientais consideráveis. A coinoculação, que combina diferentes cepas de bactérias, pode potencializar ainda mais esse processo, aumentando a produtividade e a sustentabilidade da produção de soja”, enfatiza.
O pesquisador Renan Barzam, do IDR-Paraná, em parceria com o professor da UTFPR, Fabrício Martins Lopes, apresentou uma estratégia de automatização das leituras de lâminas de esporos de ferrugem asiática para tomada de decisão no controle dessa doença tão importante no cultivo da soja.
Esse é um projeto que vem sendo desenvolvido em parceria entre essas três entidades - IDR Paraná, Embrapa e UTFPR - no sistema de monitoramento da ferrugem, o Alerta Ferrugem, que é baseado no uso de coletores de esporos da ferrugem asiática.
“O equipamento é, basicamente, um tubo de PVC, onde é colocada uma lâmina de microscopia com uma fita adesiva que faz a captura dos esporos do fungo que causa a doença de ferrugem asiática na soja”, explica.
Até então, segundo ele, a leitura dessas lâminas era feita por um profissional treinado para fazer o reconhecimento dos esporos da ferrugem. No entanto, com a introdução da inteligência artificial, espera-se que o processo se torne mais eficiente, permitindo uma maior escala de monitoramento e liberando profissionais para outras tarefas.
“Isso não só economiza mão de obra especializada, mas também expande o alcance do monitoramento, fornecendo informações valiosas para os produtores de soja. Eles podem, assim, tomar decisões mais informadas sobre a aplicação de fungicidas, potencialmente reduzindo o uso de produtos químicos e aumentando a sustentabilidade da produção de soja”, afirma Barzam.
O pesquisador do IDR-Paraná lembra que a ferrugem asiática é a principal doença na cultura da soja, principalmente no Norte do Paraná, e causa redução de produtividade em mais de 50% da cultura. “Então, por isso é tão importante saber identificar a ocorrência precoce do fungo na lavoura, antes que ele manifeste sintomas na planta, porque nesse estágio, o controle se torna muito mais difícil”, alerta.
O professor Fabrício Martins Lopes, da UTFPR, explica que utilização da IA com aplicação direta na detecção dos esporos da ferrugem da soja já começa a ser realidade.
“Desenvolvemos uma automatização do microscópio para fazer a leitura das lâminas. Com automatização do microscópio e movimentação da bandeja, digitalizamos essas lâminas para que elas passem do meio físico para o meio digital”, explica. “Com a lâmina digitalizada, na forma de um vídeo, estamos desenvolvendo algoritmos de inteligência artificial para reconhecer os esporos da ferrugem da soja automaticamente. Com isso ganhamos escalabilidade, porque aumentamos o número de lâminas que podem ser analisadas”, comenta ele.
“Desta forma é possível armazenar um histórico dessas lâminas para que sejam consultadas posteriormente para montar uma base de conhecimento”, finaliza.
Fotografia Ricardo Chicarelli
Fotografia Ricardo Chicarelli