10/04/2024

Paraná amplia participação no mercado de cafés gourmets

Por Diego Prazeres

Estado que foi referência nacional – e até mundial – na produção de café, com mais de 22 milhões de saca por ano no auge da atividade, o Paraná foi obrigado a se reinventar para continuar competitivo no mercado após a fatídica geada de 1975 que dizimou as plantações, especialmente em Londrina e toda a Região Norte.   

Com a menor área de sua história para o plantio, hoje a produção cafeeira no estado se restringe a 700 mil a 800 mil sacas anuais, o que desperta na cadeia produtiva a necessidade de retomar a extensão territorial de cultivo da cultura. 

A boa notícia é que esse novo ciclo fez com que os cafeicultores paranaenses, especialmente os de pequenas propriedades, passassem a direcionar a produção para os chamados cafés especiais, também conhecidos no mercado como gourmets. Um filão que recolocou o Paraná no mapa pela qualidade do produto, com atenção às práticas de transferência de tecnologia e sustentabilidade.

O resultado dessa produção pôde ser visto na edição final do 21º Concurso Café de Qualidade Paraná, realizada nesta quarta-feira (10) na ExpoLondrina 2024, dentro da programação do 30º Encontro Estadual de Cafeicultura, que reuniu produtores, técnicos e patrocinadores no Recinto Milton Alcover. 

O evento é organizado anualmente pela Câmara Setorial do Café do Paraná em conjunto com a Secretaria Estadual de Agricultura e Abastecimento (Seab), com apoio do IDR (Instituto de Desenvolvimento Rural do Paraná) e parcerias da UEL (Universidade Estadual do Paraná) e demais entidades do setor. 

Foram premiados ao todo 16 cafeicultores nas categorias café natural e café descascado. Além dos três melhores colocados em cada categoria, o produtor do melhor café de cada uma das dez regiões cafeeiras do Estado também foi contemplado.  

O secretário executivo da Câmara Setorial do Café, Paulo Sérgio Franzini, afirma que a demanda pelo café especial é crescente no mundo todo, o que explica a importância de o Paraná ampliar sua participação nesse mercado. “Enquanto o consumo médio de café cresce em torno de 1 a 2% ao ano, o crescimento da demanda por cafés especiais está na faixa de 10, 15, 20% ao ano. Um programa como o concurso Café Qualidade Paraná é importante porque visa capacitar o produtor, transferir tecnologia com pesquisa e extensão para que ele também tenha melhor renda produzindo o café que o consumidor está exigindo, que são os cafés especiais”, pontua.

Ano passado, a produção cafeeira no estado atingiu 740 mil sacas, sendo 15% de cafés especiais atestados pela associação brasileira que rege o setor. Franzini destaca que o estado tem conseguido reverter a imagem pejorativa de ter sido um grande produtor de café, mas “de segunda qualidade” até o início dos anos 80. “Com ação da Câmara Setorial, do governo do estado e demais entidades visando a melhoria do café paranaense a partir dos anos 2000, os resultados estão sendo comprovados e legitimados por meio de eventos como este”, reforça.

 

Retomada de áreas de plantio 

Presente no Encontro Estadual de Cafeicultores, que também apresentou palestras com foco em transferência de tecnologia visando aumentar a qualidade e produtividade com menor custo de produção, o secretário estadual de Agricultura, Norberto Ortigara, afirmou que um dos desafios da cadeia produtiva é aumentar as áreas de plantio de café especial, mesmo em pequenas propriedades.

“Esse é um desafio para a gente. Precisamos retomar área, numa visão estratégica, porque não é preciso ter uma grande extensão, sempre me refiro ao pequeno pomar de café bem conduzido, bem adensado, com técnica moderna. Antigamente, o café do Paraná era visto como de segunda qualidade, de forma até preconceituosa, mas hoje, não. Temos pouco café, mas boa parte dele com alta classificação em qualquer escala no Brasil e no mundo”, afirma. 

 

Produção de qualidade em pequena propriedade

Primeira colocada na produção de café natural no Concurso Café Qualidade Paraná, a cafeicultora Simone Schauer Maia é um grande exemplo de que é possível plantar café de qualidade em pequenas áreas. No sítio de sua propriedade, em Pinhalão, no Norte Pioneiro, ela cultiva 15 mil pés com uma produção padrão de 30 a 50 sacas por hectare.

Mesmo tendo iniciado na cafeicultura há apenas cinco anos, ela conta que o apoio da Associação das Mulheres do Café do Norte Pioneiro (Amucafé) foi fundamental para que pudesse conhecer as técnicas de plantio do café especial para que pudesse ver sua atividade alavancar. A associação tem apoio técnico de entidades como o IDR (Instituto de Desenvolvimento Rural) e já desponta como referência no Estado em relação ao cooperativismo voltado à atividade cafeeira. São mais de 16 marcas produzidas. 

“Eu passei a frequentar as reuniões, aprendendo o que era o café especial, porque só tinha ouvido sobre ele em outros estados, não sabia que se produzia aqui também”, afirma Simone Maia. O conhecimento permitiu a ela aplicar inicialmente técnicas necessárias visando recuperar totalmente a área de plantio, que estava bem degradada quando assumiu a propriedade junto com o marido. “Tivemos que fazer a correção do solo, reforma dos talhões, plantio adequado das braquiárias, e digo que a cada dia sigo aprendendo”, destaca. 

A produtora exemplifica de que forma é possível implantar tecnologia em pequenas propriedades visando uma produção de qualidade. “Como sou pequena produtora, o que entendo por tecnologia é cuidado do solo, adubação correta, desbrotar o café na hora certa, uma colheita bem feita para não deixar o café no pé e ter problema com broca. Enfim, é levar a lavoura a sério, estar a todo momento cuidando dela”, receita. 

Atributos para um bom café

O que faz um café ser considerado de qualidade? Classificador e degustador de cafés – especiais ou não – há mais de 25 anos, Francisco Barbosa Lima diz que são vários atributos. “Levamos em conta a fragrância do pó, o aroma do café na infusão do pó com a água, o sabor residual, que tem ser longo e agradável após a degustação, a acidez, a doçura e o corpo do café, que é aquela densidade da bebida”, detalha. Ele coordenou o Concurso Café Qualidade Paraná por 17 edições e atualmente faz parte da comissão julgadora do evento. 


Fotografia Lunartty Souta