05/04/2024

Simpósio de Equideocultura destaca biotecnologias reprodutivas, nutrição e gestão de centros equestres

Por Diego Prazeres

Os números são expressivos. O Brasil é o quarto país em rebanho de equinos no mundo, com 5,5 milhões de animais, atrás apenas de China, México e Estados Unidos. O faturamento do setor gira em torno R$ 16 bilhões, acima do de cadeias produtivas igualmente importantes como da laranja e da suinocultura, por exemplo. Além disso, são 3,2 milhões de empregos gerados, contingente similar à população do Estado do Mato Grosso.

Um cenário que mostra a relevância e o potencial do complexo do agronegócio do cavalo no País, atividade que abriu o primeiro grande evento técnico da ExpoLondrina 2024 com o 6º Simpósio de Equideocultura, realizado nesta sexta-feira (5), no Recinto Milton Alcover. 

O médico veterinário Pedro Victor Oliveira, responsável pelo setor de Reprodução Equina no Hospital Veterinário da Unifil, palestrou sobre rotina e aplicabilidade das biotecnologias reprodutivas em equídeos. A utilização de nutracêuticos em potros neonatos foi o assunto abordado pela médica veterinária Gabriela Mariáh Mazzeo Oliveira, mestre em nutrição e produção de não ruminantes. 

Ricardo Larrossa, médico veterinário, falou sobre as prioridades do manejo alimentar e programas de nutrição para os equinos. A gestão de haras e centros hípicos foi o tema do zootecnista Leonir Bueno Ribeiro, professor da UEM (Universidade Estadual de Maringá), enquanto a médica veterinária Luli Kratschmmer palestrou e fez demonstrações práticas de ajuste de sela para o montador e o cavalo. 

Diretora de atividades equestres da Sociedade Rural do Paraná, Roberta Garbelini Gomes destaca que o evento vai além do interesse de profissionais da equideocultura. “É um evento voltado não só para acadêmicos e profissionais da área da veterinária, zootecnia e agrônomos, mas também para criadores, treinadores, com um linguajar bem mais coloquial, com o intuito de conseguir fazer com que todo mundo consiga participar e crescer no mundo equestre”, afirma.

Ela destaca que os equinos, apesar do grande porte, são animais sensíveis e com diversas particularidades voltadas a sua criação. “São particularidades médicas, clínicas e também nutricionais, eles têm um gasto gastrointestinal peculiar da espécie. É muito fácil ocorrer síndromes cólicas e problemas dentro de um haras devido a erros da administração, da nutrição. Nesse evento a gente tenta mostrar que podemos aprender um pouco mais para realmente poder ter mais êxito nessa criação, que é peculiar”, pontua.  

 

Biotecnologias reprodutivas auxiliam na taxa de fertilização 

Um dos maiores especialistas em biotecnologia reprodutiva em equídeos, o veterinário Pedro Victor Oliveira explica que a contribuição da atividade é evidenciada nas mais diversas cadeias que envolvem o complexo do agronegócio do cavalo, especialmente na melhora das taxas de fertilidade desses animais. 

“O complexo do agronegócio do cavalo é gigante, tem desde o ferrador, da loja agropecuária até o veterinário, que vai usar as biotecnologias de reprodução. E elas servem para melhorar os índices reprodutivos, os equinos têm as taxas mais baixas de fertilidade entre os animais domésticos, então a gente podendo usar as biotecnologias aumenta esses índices”, afirma. 

Ele cita como exemplo a técnica da transferência de embrião. “Uma égua é uma espécie de gestação simples, só se pode tirar um embrião dela por ano. Quando faço uso da transferência de embrião, posso tirar dois, três produtos dessa égua num único ano”, explica. Além disso, como a técnica envolve éguas receptoras como barrigas de aluguel, os animais competidores não precisam se ausentar de provas esportivas durante o processo de gestação e posterior amamentação do potro. 

Oliveira lembra que Brasil e Argentina são os países que mais utilizam técnicas de transferência de embrião no mundo, com cerca de 3,5 mil a 4 mil procedimentos por ano, tornando-os referências em reprodução de equinos. “Isso demonstra o quanto a reprodução equina brasileira está em evidência no mercado internacional. Recebemos muitas demandas de serviços veterinários em equinos porque estamos sempre com pesquisas avançadas, melhorando as biotecnologias de reprodução”.  

 

Gestão de haras: um tema tabu

Ao destacar como uma das palestras do simpósio de equideocultura a gestão de haras e centros hípicos, a diretora de atividades equestres da Sociedade Rural do Paraná, Roberta Garbelini Gomes, diz que o assunto é muito pouco abordado na cadeia produtiva de equinos. 

O zooctenista e professor da UEM, Leonir Bueno Ribeiro, responsável por tratar do tema no evento, explica o porquê do “tabu”. “Porque hoje a gente se depara tanto com profissionais quanto acadêmicos e até proprietários de haras que às vezes não sabem nem calcular quanto é seu custo de processo. Além do mito que ainda existe por trás de receitas, de copiar receitas de outras propriedades ou realizar manejos de outras propriedades, pensando que está fazendo a coisa correta”, pontua.

Ribeiro aponta que o grande problema disso é que muitos produtores desconhecem o custo da sua atividade na administração de um centro equestre, seja ele voltado para hotelaria, centro de treinamento ou à própria criação de animais. 

“A coisa mais importante que um proprietário de centro equestre precisa entender é que ele tem que conhecer o seu modelo de negócio, porque os centros equestres podem ser voltados a treinamento, hotelaria ou reprodução. E depois precisa trabalhar em cima de centros de custo, que é para ele poder ter uma análise do que é que está onerando seu processo para então entender por que ele tem uma receita positiva ou negativa”, detalha o especialista, proprietário do Nica Ranch, em Iguarassu, na região de Maringá, que oferece treinamentos, cursos e pesquisas em criação de cavalos Quarto de Milha.

Foto: Lunartty Souta